Negócios de impacto: o que são, características e sua relação com a inovação

Sumário

Empresas que impactam de forma positiva a sociedade e o meio ambiente podem automaticamente ser definidas como negócios de impacto? A operação precisa ser superavitária? O lucro deve necessariamente ser reinvestido no negócio? Essas são algumas das principais questões envolvendo a proposta: entender o que é um negócio de impacto.

O conceito de negócio de impacto está longe de ter encontrado um consenso em seu significado. Para algumas pessoas, negócios de impacto têm a intenção de resolver um problema socioambiental e devem reinvestir todo o valor faturado no próprio negócio para, assim, aumentar o impacto. 

Há, ainda, quem diz que negócios de impacto podem e devem distribuir o lucro entre seus investidores para que haja mais pessoas investindo e, como consequência, aumentar o impacto do negócio. Afinal, como entender o que são negócios de impacto?

Neste artigo, explicamos o conceito e damos uma definição relacionando negócios de impacto com a inovação. Além disso, elencamos as diferenças entre impacto social e responsabilidade social, bem como os elementos essenciais aos negócios de impacto. Continue a leitura!

O que são negócios de impacto?

Novas formas de empreender nascem diariamente. Isso é uma ação necessária, tendo em vista a multiplicidades de problemas relacionados às mais variadas vivências da nossa contemporaneidade. Nesse sentido, temos os negócios de impacto, cuja definição não é restrita a somente um grupo.

Em outras palavras, temos um conceito em disputa, ou seja, não há uma definição única sobre o termo. Para nós da Semente, negócios de impacto são aqueles que procuram resolver problemas reais com a intenção de causar impacto positivo nas camadas socioambientais da sociedade e, com isso, gerar valor compartilhado.

Os negócios de impacto atuam na solução para as mazelas sociais, criando por vezes produtos, serviços ou formas de operação inovadores. Nesse contexto, eles quando Governos ou entidades governamentais não conseguem atender e suprir todas as demandas das populações. Por terem uma postura diferenciada em relação aos, digamos, negócios tradicionais, é que o protagonismo dos negócios de impacto também se sobressai.

Os negócios de impacto tomam um caminho rumo à transformação social e à valorização da vida, pois não têm somente o lucro como propósito e como mecanismo para se fazerem atuantes. Há um fator intencional de melhoria das dinâmicas sociais intrínsecas em negócios dessa natureza. Para a Semente, os negócios podem e devem promover prosperidade aos indivíduos, com ampliação do bem-estar econômico, social e político.

Por fim, outra preocupação que também funciona como critério para definir negócios de impacto diz do compromisso com o monitoramento dos resultados gerados. Por exemplo, não bastará para um negócio de impacto apenas idealizar soluções e colocá-las no mercado sem que existam parâmetros de medição do impacto delas nos territórios e/ou ecossistemas envolvidos.

Vemos que uma pessoa tem nas mãos uma muda de planta (imagem ilustrativa). Texto: negócios de impacto.

Tais características constituem o DNA dos negócios de impacto, podendo assumir formas distintas, como uma empresa, associações, cooperativas ou fundações.

Diferenças entre impacto social e responsabilidade social

A responsabilidade social implica separar uma parte dos rendimentos de uma empresa e doar para uma ONG, por exemplo. Ou ter projetos de cunho social dentro da sua empresa. Muito diferente disso é depositar o coração na operação de um negócio de impacto social, o que implica na geração de valor compartilhado, atrelado à resolução de um problema socioambiental.

Na Semente, costumamos olhar para os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030 das Organizações das Nações Unidas (ONU). Além disso, também olhamos para o desdobramento desses objetivos, o que implica em cerca de 150 sub-objetivos e cerca de 200 indicadores.

Em resumo, um negócio de impacto surge com uma solução de mercado com a venda de produtos, serviços ou formas de operação e que respondem a problemas reais. Isso muitas vezes está ligado às questões atreladas aos ODS, o que para nós também está intimamente ligado ao empreendedorismo inovador.

A questão da intencionalidade nos negócios de impacto e como isso se relaciona com os ODS são os primeiros pontos. Da mesma forma, outra questão fundamental se relaciona com o lucro. Prossiga com a leitura para entender mais a respeito das características de um negócio de impacto!

A intencionalidade para um negócio de impacto

Muitas pessoas podem imaginar que intencionalidade é sinônimo de intenção ou que são coisas iguais. “Eu tenho a intenção de mudar o mundo, então sou um negócio de impacto”. Não necessariamente! Este é, digamos, o primeiro passo para o estabelecimento de um negócio de impacto, tendo outros desdobramentos necessários para começarmos a caracterizar um negócio de impacto efetivamente.

Do intencionar, ou seja, da tomada de decisão em atuar para a mudança vem uma série de ações, posturas e indicadores que vão transformar um negócio em negócio de impacto. Do mesmo modo, é de extrema importância que esta intenção esteja introjetada no core business do negócio. Isso significa, em outras palavras, ter a intenção genuína de querer resolver um problema real, o que ditará as relações entre lucro e intenção.

Relação entre Lucro x Intenção

Para falarmos sobre a relação entre lucro e intenção, precisamos retornar ao fundamento dos termos negócio social e negócio de impacto e suas diferenças no ocidente e no oriente. O termo Negócio Social surgiu na década de 1970, com o economista e banqueiro bengali Muhammad Yunus, criador do Grameen Bank.

O termo “grameen” em bengali significa “aldeia” e já descreve o caráter da filosofia dos negócios sociais: o objetivo do banco era emprestar dinheiro para pessoas que não teriam acesso a capital em bancos comerciais tradicionais. O Grameen Bank cresceu e se tornou um grande sucesso, permitindo que um número enorme de pessoas saíssem da pobreza.

Posteriormente, o modelo foi apropriado no ocidente por meio dos estadunidenses Stuart Hart e Michael Chu, que redefiniram o conceito. Ao ser introduzido à linguagem corporativa no ocidente, o termo negócio de impacto social perde o radical “social”. Isso se dá, pois, deste lado do globo, consideramos que essa característica já está implícita no que se entende por negócios de impacto.

Hoje em dia, o termo que mais se aproxima do conceito de negócio social, como inicialmente foi pensado por Yunus, é “negócio de impacto”, porque contempla uma preocupação real com o social e o investimento nas suas causas.

Nessa seara, estão inseridas diversas complexidades próprias dos negócios de impacto, como a já mencionada questão da intencionalidade e sua relação com o lucro.

Vemos o escritório de uma grande empresa; ao fundo, através da janela, vemos vários prédios (imagem ilustrativa).
Um exemplo prático

Um investidor tem por interesse contribuir com o setor de educação. A partir disso, foi identificado um problema de baixa escolaridade envolvendo meninas no interior de um determinado país. Assim, a intencionalidade explícita era resolver um problema atrelado à educação.

Contudo, na medida em que o negócio foi evoluindo, entendeu-se que a raiz do problema estava, na verdade, relacionado a essas meninas não terem acesso a absorventes, o que as impedia de ir à escola – problema, hoje, conhecido como pobreza menstrual identificado, inclusive, em diversas regiões do Brasil. 

Por isso, tudo pode mudar a partir do processo de investigação do problema. Ele se apresenta em camadas, e não necessariamente a mais visível delas vai incitar respostas para a solução mais urgente, mais significativa e, portanto, impactante. Dito isso, é importante, sim, ter clareza sobre o problema e os objetivos acerca das soluções a se propor e suas consequências financeiras.

Por outro lado, é substancial, e fará toda a diferença para quem está pensando em negócios de impacto, ter resiliência suficiente para compreender as guinadas necessárias a um projeto. Quando isso acontece, o aprofundamento do problema revela a sua camada, digamos, mais real – e como isso afetará as coisas economicamente falando precisará ser ponderado. Logo, pensar na relação Lucro x Intenção é muito importante.

Por vezes, a solução real e estritamente necessária foge à intenção primária do investidor. Isso não quer dizer que não existam outras questões ou que o lucro ficará de fora. O caso serve para demonstrar que há momentos cuja intenção pode não corresponder ao problema real. Isso poderia acarretar em soluções aleatórias, dificuldades em metrificar resultados e o impacto das soluções propostas justamente por elas não se aderirem ao problema vital a ser resolvido.

Elementos essenciais dos negócios de impacto

Diante do que já foi dito até aqui: o que é mais importante para abrir um negócio de impacto social? Podemos elencar três pontos fundamentais:

  • Ter explícito a intencionalidade;
  • Entender os processos e onde o seu negócio se encaixa dentro dos ODS; e
  • Delinear um objetivo, com indicadores de crescimento e métricas bem estruturadas.

Nos tópicos anteriores, foi possível compreender a importância de ter, de forma bem visível, a intencionalidade e como isso se relaciona com o lucro. Do mesmo modo, falamos como os ODS ajudam a guiar essa intenção e podem funcionar como um farol. Por último, temos a necessidade de um delineamento em prol de um objetivo a ser alcançado.

Se o negócio está em fase inicial, dificilmente ele terá condições de estabelecer métricas e indicadores consistentes em função do tempo. Isso porque não haverá, em tese, dados quantitativos e qualitativos de um determinado período de tempo para que as análises e comparações necessárias sejam realizadas. E nisso consiste a primeira importância de estabelecer tais indicadores e métricas: só assim será possível visualizar e, portanto, embasar o funcionamento e desenvolvimento do negócio.

Com isso, também é possível criar argumentos sólidos para justificar tanto a sua existência quanto a sua continuidade e possíveis mudanças. O que conflui para uma questão envolvendo até mesmo a Teoria da Mudança. Em resumo, o importante aqui consiste em medir para reportar e analisar os próximos passos com mais consistência.

Se está começando agora, passe a medir aquilo que você já tem e incremente com o tempo, lembrando sempre de estabelecer indicadores e métricas ambiciosas mas condizentes com a sua realidade no momento. Isso resultará em um histórico, e quando as coisas ganharem mais corpo, será possível então passar para um próximo nível.

Vemos uma mulher, negra, empresaria, fazendo algumas anotações em seu escritório home office (imagem ilustrativa). Texto: negócios de impacto.

A questão da governança

A Governança consiste em um conjunto de ações definidoras de responsabilidades e que ajudam a desenhar os processos de tomada de decisão dentro das organizações. Isso significa exercer a liderança, pensar estrategicamente e trabalhar, de fato, a gestão do negócio.

Dentro do universo do empreendedorismo, a governança está também ligada ao aporte intelectual da pessoa empreendedora. Ou seja, a contribuição com conhecimentos e habilidades de gestão e liderança para ganho de mais confiança e autoridade.

No caso dos negócios de impacto, a governança leva em conta não só os que os sócios do negócio acham, mas o que fornecedores, clientes, pessoas da comunidade em geral afetada pela existência desse negócio pensam dessas decisões.

Claro que o negócio quando está começando tem que se preocupar com intencionalidade e rentabilidade. Depois que o negócio cresce, vem também as preocupações com questões envolvendo método e governança.

Como a inovação se alia a negócios de impacto?

Quando falamos de negócio e de empreender aqui na Semente, nos referimos diretamente a algo ligado à inovação, o que para nós significa resolver um problema real, de forma economicamente sustentável, em cenários de altos níveis de incerteza para gerar impacto positivo.

Inovação não é ideação, ou seja, não consiste somente no encadeamento de ideias a partir de uma sessão de brainstorming, por exemplo. Também não é o pufe rosa na recepção e a piscina de bolinhas dentro de uma empresa, e muito menos o Kanban. O conceito está mais atrelado a desbravar mercados a partir de ações consistentes, a fim de captar e entregar valor.

A aposta na inovação como ferramenta para geração de prosperidade está no desenho e na execução de projetos, customizados por nós em três frentes: programas de empreendedorismo e aceleração; projetos de inovação corporativa; e programas de desenvolvimento territorial.

Dessa forma, a Semente trabalha para a evolução de ecossistemas prósperos. Ou seja, de ambientes onde diferentes atores entendem a inovação como força motora para o desenvolvimento social e econômico, alavancando o empreendedorismo como instrumento de mudanças socioambientais.

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Janderson Silva
Janderson Silva
Jornalista e mestre em comunicação. Comanda o Café com Conteúdo, informativo da Semente sobre inovação e empreendedorismo, e apresenta o Microclimas: criando atmosferas de inovação, podcast mensal da Semente Negócios. Atua nas áreas de marketing e marca da empresa.

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