Teorias de inovações criadoras de mercados: prosperidade como ferramenta

Sumário

De acordo com o Banco Mundial, mais de 4 trilhões de dólares foram gastos, de 1960 até hoje, em assistência oficial ao desenvolvimento tentando ajudar países mais pobres. Por mais antagônico que seja, muitas dessas intervenções não tiveram tanto impacto quanto eram esperadas. Na realidade, muitos dos países mais pobres do mundo em 1960, ainda são pobres nos dias de hoje, mesmo depois de bilhões de dólares em investimento.

Esse paradoxo entre como promover a prosperidade de uma nação é o foco do estudo realizado por Clayton Christensen e publicado no livro “Paradoxo da Prosperidade”, em coautoria com Efosa Ojomo e Karen Dilon, em que uma das estratégias na promoção da prosperidade é a inovação.

Sendo assim, o foco deste artigo: pensar como um tipo de inovação pode promover a prosperidade e desenvolvimento econômico de um país. E indo mais além: como a prosperidade pode ser uma ferramenta para as teorias de inovações criadoras de mercados?

Para chegar em algumas análises, é necessário entender sobre a Teoria das Inovações, em especial como a inovação é capaz de impulsionar outras iniciativas que promovem o desenvolvimento social e econômico. Mas não quero ser teórico ou ficar só no papo acadêmico, por isso separei exemplos diversos e reflexões práticas.

Falando em prática, leia cada um dos tipos de inovação e reflita como você pode implementá-la em seu negócio, ou pense em exemplos de seu dia-a-dia. E então, vamos falar sobre inovação?

Tipos de inovação

É óbvio que inovar é essencial para qualquer empresa, principalmente quando se olha o mercado, as exigências do consumidor e a concorrência. Mas sob o aspecto de prosperidade de uma nação, a inovação nem sempre é um elemento citado como fundamental no desenvolvimento socioeconômico.

Contudo, sob a ótica da Inovação, não se define como todos os países atualmente prósperos se desenvolveram, mas inovar tem se mostrado uma das estratégias mais viáveis para criar prosperidades nos países pobres de hoje.

Falando em Inovação, segundo a teoria de Christensen, autor do livro “O Paradoxo da Prosperidade”, existem 3 tipos de inovação.

Inovação de Sustentação

A princípio temos as Inovações de Sustentação, que são melhorias nos produtos e soluções já existentes, em um mercado já consolidado. São melhorias incrementais em novas funcionalidades, cores, sabores, produtos semelhantes e etc. 

Até a última páscoa eu não tinha tanto costume de comer um Panettone, mas vi vários tipos e sabores diferentes, com chocolate ao leite, chocolate branco, mousse e uns com recheio separado para rechear a gosto. É uma ótima estratégia de inovação de produto, mas não necessariamente amplia de forma significativa o mercado consumidor, muito menos cria um novo mercado.

Inovação de Eficiência

O segundo tipo é a Inovação de Eficiência, significa fazer mais com menos e muitas vezes implica na mudança de processos para atingir esse objetivo. É uma inovação boa para a produtividade da empresa, mas não necessariamente é boa para os funcionários já existentes.

Cada um deste tipo de inovação, não são inerentemente boas ou ruins para um país, mas desempenham papéis diferentes na promoção do crescimento econômico sustentável, mas com certeza mantém a economia competitiva e vibrantes sem criar novos mercados, que é o objetivo do nosso terceiro tipo.

Inovações Criadoras de Mercados.

Esse tipo de inovação atende a grupos de pessoas para os quais não haviam produtos ou os existentes eram caros demais, inacessíveis por uma série de razões. As Inovações Criadoras de Mercado (ou ICMs) formaram a base para muitas economias ricas de hoje e ajudaram a tirar milhões de pessoas da pobreza ao longo do tempo.

Em sociedades em desenvolvimento existem diversos problemas estruturais e o acesso restrito a diversos produtos e serviços. É exatamente aí que as inovações criadoras de mercado entram. Esse tipo de inovação tem o poder de criar as bases econômicas para o crescimento sustentável.

Isso porque, a partir dela, uma empresa passa a oferecer para um grande número de pessoas acesso a um produto ou serviço que antes estava disponível para uma pequena parcela da população, ou mesmo que ainda não estava disponível. Dessa forma, pode impulsionar o desenvolvimento econômico da sociedade, ao mesmo tempo em que gera riqueza para os empreendedores.

Vantagens das Inovações Criadoras de Mercado

A criação de novos mercados puxa a contração de pessoas (principalmente a mão de obra local), que puxa a educação em outras áreas. Esse círculo virtuoso das ICMs podem ser exemplificados com o caso Modelo T, famoso carro da Ford, dos anos de 1910, que tinha a produção anual de 20 mil carros.  A grande revolução da Ford em todo o ecossistema, acarretou na produção de mais de 2 milhões de veículos em 1922. 

A maioria da população andava de carroça e os carros eram inacessíveis. O que existiam eram inovações de sustentação e de eficiência para atender melhor um grupo seleto e pequeno de consumidores. O Modelo T possibilitou a criação e manutenção de estradas, promoveu a criação de projetos de lei para a regulamentação do segmento, aumentou a arrecadação dos impostos, puxou a educação para formar profissionais qualificados na cadeia de valor do setor automobilístico e puxou novos segmentos como oficinas mecânicas.

Organograma com exemplo do Modelo T, da Ford.

Do mesmo modo, outra vantagem das inovações criadoras de mercado é que estas geram empregos nas localidade, que todos sabemos que são um dos principais fatores de desenvolvimento econômico e social de uma nação.

Esses empregos têm uma característica própria: são aqueles destinados a atender o mercado local e dificilmente podem ser feitos fora do território e, por isso, são melhor remunerados.

Percorrendo alguns anos no tempo e chegando até os dias de hoje, outro case atual de ICM, ainda no setor automobilístico, são os carros elétricos que têm a tendência de se tornarem uma solução cada vez mais barata para atender a uma grande fatia do mercado.

Além da pressão que as soluções sustentáveis impulsionam o segmento, os carros elétricos transformarão outros segmentos: estradas, redes de abastecimento elétrico, oficinas mecânicas e etc.

Setor Bancário e a Teoria das Inovações Criadoras de Mercados

Um case atual de inovações criadoras de mercados é o do Prof. Muhammad Yunus, Nobel da Paz, empreendedor social que fundou o Grameen Bank em Bangladesh. O negócio começou em um pequeno vilarejo chamado Jabra, próximo a faculdade em que lecionava. O foco do banco era a concessão de microcréditos a mulheres que sofriam a exploração por um sistema de agiotagem local e não tinham condição de prosperar.

Neste caso, fica evidente o tipo de inovação, uma vez que atende um grupo de não consumidores, que são mulheres que não possuíam acesso ao sistema de crédito. 

É notável que um dos impactos ligados ao negócio social de Yunus foi a redução da pobreza que antes atingia 71% da população e no último levantamento em 2017, atingiu apenas 23% do total da população. Isso mostra como é possível inovar com um negócio de impacto social e transformar uma nação como resultado.

Ok! Falamos dos tipos de Inovação, alguns exemplos, mas de forma prática, que elementos devemos olhar no “desenvolvimento” de Inovações Criadoras de Mercados?

Alavancas das Inovações Criadoras de Mercados

Alguns elementos são chaves no desenvolvimento deste tipo de inovação e devem estar no radar de organizações e empreendedores. Vou apresentar dois destes elementos que necessitam de uma maior atenção:

Modelo de Negócio que visa não consumidores

Não consumidores seria um público que não adquire por diversos fatores um determinado produto: preço, dificuldade de uso, acesso, entre outros. Dessa forma, a perspectiva de focar em atender não consumidores é estratégico e gera alto impacto sociais. Isso porque em muitos segmentos, o número de não consumidores é significativamente maior do que os consumidores atuais e a concorrência é bem menor.

Sob essa ótica, uma dica é refletir sobre o porquê certo público não compra determinada solução/produto? Quais são as barreiras? Tem interesse legítimo no produto? O que esse público tem feito de maneira substitutiva ao não consumo? 

Como ferramentas para olhar e mapear o público sugerimos o Mapa de Empatia e o Design Thinking.

Análise da Cadeia de Valor

Cadeia ou Rede de Valor é o conjunto de atividades necessárias para que um produto fique disponível para consumo. Em alguns segmentos essa cadeia de valor é enorme e cada um dos seus agentes incrementa o aumento dos custos.

Logo, a proposta é que, com a criação de uma nova rede de valor, permite-se a redefinição dos custos fazendo com que o produto seja acessível para os não consumidores e seja lucrativo. Bom né?

A próxima Inovação Criadora de Mercado

É fácil identificar uma Inovação quando ela já ocorreu e fez sucesso. Mas para identificá-la desde a sua ideação e desenvolvimento, é preciso mudar a perspectiva. Essa deve ser uma reflexão incansável de organizações, empreendedores, agentes públicos na busca da próxima Inovação Criadora de Mercado.

Vemos um homem rascunhando um projeto em um papel (imagem ilustrativa). Texto: inovações criadoras de mercado.

Ao investir nesse grupo de inovação, de forma inconsciente todos os agentes do ecossistemas, se mobilizam para a transformação do país. Com isso, cria-se empregos, novos mercados de apoio, aumenta o lucro e impacta positivamente a população.

Essa formação de um círculo do bem é o que nos mobiliza. Aqui na Semente, por exemplo, acreditamos na Inovação como agente fundamental na prosperidade, seja do indivíduo, organização ou de um ecossistema. Nos organizamos através de três áreas principais com foco em inovação, são elas:

  • Inovação Social: em que apoiamos em ecossistemas ou empreendedores sociais;
  • Empreendedora: em que apoiamos o desenvolvimento de startups e produtos inovadores; e
  • Inovação Corporativa: ajudamos organizações a formatarem suas teses de Investimentos e inovarem de forma estratégica, utilizando recursos próprios ou atuando junto a comunidade de startups.

Por fim, espero que com esse conteúdo, você identifique novas perspectivas sobre o impacto da inovação. E se precisar, vamos bater um papo e entender como podemos juntos, promover a prosperidade por meio da inovação?

Gostou deste conteúdo? Então, continue navegando pelo blog da Semente e confira o texto Inovação disruptiva: por que grandes empresas têm dificuldade em trabalhar com essa inovação?

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Semente Negócios
A Semente desenha soluções de inovação que valorizam a vida, trazendo o impacto para o centro das tomadas de decisão em diferentes áreas. Somos uma empresa que visa contribuir para a evolução de ecossistemas de empreendedorismo, alavancar o empreendedorismo inovador como instrumento de mudanças socioambientais e aumentar as competências de inovação em grandes organizações. Acreditamos na inovação como meio e o impacto como fim. Por isso, em todas as nossas frentes de atuação, buscamos promover a prosperidade econômica, social e política através da inovação.

1 comentário em “Teorias de inovações criadoras de mercados: prosperidade como ferramenta”

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